quarta-feira, 29 de julho de 2009

A busca pela perfeição e a gestão do tempo

Até que ponto o alto grau de exigência na execução de tarefas pode comprometer a produtividade e afetar a boa gestão do tempo no ambiente corporativo?

Natalia Kfouri/MBPress

Ser exigente e detalhista na realização de um trabalho geralmente resulta em um produto final de alta qualidade. Porém, quando excedidos alguns parâmetros, a busca obsessiva pela perfeição pode não apenas prejudicar a saúde psicológica como, por conseqüência, comprometer o bom desempenho do funcionário, interferindo diretamente na eficácia e na produtividade profissional.

Segundo a psicóloga comportamental Valéria Lemos Palazzo, que atende na capital paulista, a sociedade ainda enxerga o perfeccionismo como uma qualidade. Contudo, essa visão aos poucos vem se modificando, sobretudo no ambiente corporativo. “Isso porque os profissionais perfeccionistas não conseguem ser flexíveis e ter foco em mais de uma tarefa”, justifica ela.

As pessoas com esse traço de personalidade normalmente tendem a levar suas tarefas até o fim e com excelência. Entretanto, gastam tempo demais para executá-las, fato que costuma criar problemas no que diz respeito ao cumprimento de prazos. (veja depoimento em box)

Especificamente no ambiente de trabalho, ao perseguir um grau de qualidade que considera ideal, mas que muitas vezes é classificado por colegas – e até mesmo superiores - como inatingível, o perfeccionista foca sobremaneira em um mesmo trabalho e, não raro, atravanca a evolução das demais atribuições que lhe foram confiadas.

Para tentar superar esse impasse sem comprometer a administração da carga horária de trabalho, a psicóloga recomenda que o profissional aprenda, primeiramente, a traçar metas reais. “Em um segundo momento, ele deve dar pequenos passos seqüenciais, mas sem tanta rigidez, e reconhecer aspectos positivos no trabalho desempenhado”, orienta.

Por mais que domine a teoria, o executivo Lucas Camargo, diretor comercial da Flipcomp, empresa de soluções tecnológicas localizada na zona leste de São Paulo, tem dificuldades para colocá-la em prática.

Funcionário meticuloso, ele admite que, em certos aspectos, tal característica prejudica sua rotina de trabalho e afeta diretamente a gestão de sua agenda. “Tenho mania de revisar todos os meus projetos”, diz. “Por isso, é comum ficar além do horário na empresa e também levar vários trabalhos para casa.”

De acordo com especialistas, a busca compulsiva pela perfeição não somente é uma ilusão como, em geral, pode ser considerada um tipo de comportamento indesejável, já que para tentar satisfazer seus padrões, seja no ambiente corporativo ou doméstico, a pessoa costuma desgastar-se física e emocionalmente além de um limite tido como tolerável.

Freqüentemente, os perfeccionistas também encontram dificuldades nos relacionamentos interpessoais. E mais: acreditam que sua maneira de agir é a correta e, por essa razão, mesmo que involuntariamente, esperam que todos ao seu redor tenham o comportamento por eles considerado ideal. “Para o perfeccionista, o tempo certo é o tempo dele”, conclui a psicóloga Valéria Palazzo.


“Sempre fico apertado com datas”*
* Lucas Camargo, diretor comercial da Flipcomp

“O mais difícil em ser perfeccionista é sempre me sentir insatisfeito.
Trabalho na área de tecnologia e, neste segmento, prazo tem muito a ver com credibilidade. Por isso, sempre me esforço para entregar tudo em dia.
O problema é que além de participar do processo de elaboração de projetos, também fico com a finalização dos mesmos. E, para um perfeccionista, essa é a parte mais complicada.
Como costumo rever todo o resultado, os prazos passam a ser um grande problema para mim. Por me apegar muito aos detalhes, sempre fico apertado com as datas de entrega.”

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