Workaholic x Produtividade
Ser viciado em trabalho é, de fato, sinônimo de mais produtividade no ambiente corporativo? Conheça as duas faces de quem vive em função da carreira - o workaholic e o worklover - e saiba o que distingue um conceito do outro
Rodrigo Capelo/MBPress
O termo workaholic foi criado pelo psicólogo americano Wayne Oates, em 1971, no livro “Confessions of a Workaholic”. Ele é uma alusão ao alcoholic ou, em português, alcoólatra. Popularizou-se a partir da década de 1990 e designa profissionais literalmente viciados em trabalho. A dedicação exagerada ao ambiente corporativo, contudo, significa ser mais produtivo?
Assim como qualquer outro vício, as consequências surgem cedo ou tarde, proporcionalmente ao uso da “droga”, segundo a psicóloga Maria Terezinha Tomasia. “Caso o indivíduo deixe o vício por trabalho ganhar proporções avassaladoras, ao longo do tempo isso afeta diretamente a saúde física e psicológica”, afirma. Por isso, como consequência, a produtividade profissional é atingida.
O excesso de atenção ao trabalho, além de ser prejudicial no curto prazo, também pode causar sérios problemas no decorrer da vida, ainda de acordo com a psicóloga. “Na medida em que o workaholic deixa o trabalho invadir outras áreas da vida, como a família, os amigos e o ócio, gradativamente há uma perda de qualidade de vida”, explica. “Isso pode levá-lo a problemas de saúde, afastamento de familiares e amigos e até a perda do próprio emprego, em função do desequilíbrio emocional.”
Pós-graduada em gerenciamento de pessoas, Terezinha atua em recursos humanos há mais de 13 anos e revela que, ao contrário do que se supõe, as empresas não são unânimes em relação à preferência por workaholics. “As corporações têm cobrado cada vez mais inteligência emocional dos colaboradores, e ser viciado em trabalho, de certa forma, é uma manifestação de que algo não está bem emocionalmente”, argumenta.
O comportamento dos workaholics, segundo a profissional, é outro fator que pode afetar a produtividade da empresa como um todo. “Em alguém com esse perfil, é comum encontrar características como não ser empático, ter estresse exagerado, ser autoexigente em excesso e geralmente exigir muito dos outros também”, exemplifica Terezinha. Para ela, a menos que trabalhem com outros workaholics, essas pessoas não são boas para atuar em equipe.
Lado bom
Afirmar que ser workaholic é ruim em todas as situações, contudo, pode ser um engano. Segundo hipótese criada por Maria Terezinha Tomasia, um jovem solteiro e com bastante tempo disponível pode obter vantagens na vida profissional justamente por ter esse perfil.
Ela considera que, nessa etapa da vida, as circunstâncias tornam o vício por trabalho uma característica que pode gerar benefícios. “Mas seria bem diferente se ele tivesse outros papéis para desempenhar, como o de pai ou marido, e em função do exagero não conseguisse se fazer presente”, ressalta.
Além do momento no qual a pessoa vive, também existe uma versão positiva do workaholic.
O conceito worklover, criado pelo psicólogo organizacional brasileiro Wanderley Codo, define profissionais apaixonados pelo trabalho, mas que impõem limites. Indivíduos com esse perfil são capazes de dedicarem-se com afinco à empresa e ainda manterem relações saudáveis com a família e os amigos. “Dentro desse conceito, a diferença crucial é que o workaholic sofre, fica angustiado, tem ansiedade excessiva e deprecia os relacionamentos interpessoais”, explica Terezinha Tomasia.
Para ela, “o worklover é um profissional motivado, que tem autocontrole, é feliz e possui uma mola propulsora que o leva ao sucesso, porque se sente realizado naquilo que faz.”
Rota de fuga
Na tentativa de inibir que a “versão negativa” do vício por trabalho se desenvolva - o workaholic – especialistas sugerem alternativas peculiares. Estudo recente realizado na Alemanha, na Universidade de Goettingen, revelou que, entre os 32 mil homens e mulheres pesquisados, mais de 35% deles costumavam usar o trabalho como refúgio para os problemas sexuais.
Para piorar o cenário, aqueles que não mantinham relações sexuais constantes apresentaram indícios ainda mais fortes de vício por trabalho. Segundo a pesquisa, fazer sexo no mínimo duas vezes por semana é uma maneira efetiva de evitar que o indivíduo se torne um workaholic.
Já para a consultora Patrícia Simões, antes de procurar por métodos para evitar o vício, é preciso identificar onde está o problema. “É necessário enxergar se a pessoa consegue desempenhar tudo o que gostaria”, diz. “O primeiro passo é fazer a análise, parar para pensar.”
Depois, caso haja necessidade, Patrícia, que também é psicóloga, recomenda que o indivíduo busque tratamento profissional. “Às vezes a pessoa pode precisar de ajuda externa por não conseguir enxergar a vida dela como realmente é”, argumenta. “O importante é prevenir, porque para corrigir depois é muito mais difícil, assim como qualquer outro vício”, finaliza.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
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